sábado, 14 de julho de 2012

São Jacob Baradaeus, metropolita de Edessa (port.: São Tiago de Edessa)

Autor: Prof. Pablo Neves
Especialista em História da Arte Sacra
Professor do Mosteiro de São Bento de São Luis

Famoso por sua piedade e devoção, Jacob Baradaeus (ou Jacob al-Baradai - Jacob = Tiago em português) atingiu o cume do ascetismo religioso e austero e foi um dos Padres mais importantes de toda história da Igreja Ortodoxa Siríaca, bem como para as outras igrejas chamadas de “pré-calcedonianas”. Em português, é mais conhecido por São Tiago de Edessa.

Ícone de São Jacó Baradaeus 











Durante o Concílio de Calcedônia em 451 d.C, os bispos das Igrejas Copta, Armênia e Siríaca rejeitaram as resoluções conciliares por entenderem que tratavam-se de desvios doutrinais, quando comparadas àquilo que receberam dos Apóstolos e dos Santos Padres, enquanto as igrejas latinas e gregas aceitaram o concílio, firmando assim, o primeiro cisma da Igreja. Assim, essas igrejas começaram a ser duramente perseguidas, tendo seus bispos assassinados ou exilados pelo Império Bizantino, a ponto de praticamente não existirem mais bispos na Igreja Ortodoxa Siríaca, o que ameaçava sua própria existência, haja visto que sem bispos não podem existir padres. 

Neste período de tantas turbulências, Deus enviou para Igreja um homem cheio de fé e coragem, o monge Jacob (Tiago) Baradaeus (Ya `QUB Burd` ono), que dedicou sua vida a defender a Santa Igreja daqueles que queriam sua extinção. Seu sobrenome “baradaeus” é uma referência às vestes que usava, feitas retalhos de sela remendados e velhos cobertores, que o ajudaram a viajar sem ser identificado e assassinado.

Filho de um sacerdote chamado Teófilo, nasceu no ano de 505 em Tal Mawzalt (atualmente na Turquia) e ainda jovem tornou-se monge no Mosteiro de Fsilta, numa localidade próxima a sua terra natal. Dominava a língua grega e o siríaco, além de ser um profundo estudioso dos livros religiosos e da ciência teológica. Tornou-se então um grande teólogo e pregador, realizando grandes milagres em Nome de Cristo e encorajando seus seguidores a permanecerem fiéis à ortodoxia, mesmo diante de tantas perseguições daquele tempo. Em 528 viajou para Constantinopla, sendo recebido com muita honra pela imperatriz Teodora, filha de um sacerdote sírio e esposa do imperador Justiniano, que dava proteção ao clero (sírio e copta) perseguido e martirizado daquele período.

Foi então ordenado bispo “universal”, com o título de metropolita de Edessa e com autoridade ecumênica, pelo então Patriarca de Alexandria Mar Teodósio, que estava exilado em Constantinopla, juntamente com outros três bispos que estavam presos. Assim, poderiam ordenar padres e bispos em todas as igrejas (coptas, armênias, sírias, etíopes etc) que rejeitaram o concílio, evitando assim o seu desaparecimento.

Mor Jacob Baradaeus, o “bispo universal”, partiu então em sua missão pela Síria, Egito, Armênia, Capadócia, Cilícia, Isauria, Panfília, Licaônia, Lycia, Frígia, Cana, Ásia Menor e pelas ilhas de Chipre, Rodes, Quios e Mitilene, assim como pela Mesopotâmia e Pérsia. Autorizado pelo patriarca, ele sagrou vinte e sete bispos e ordenou alguns milhares de diáconos e sacerdotes, mantendo-se firme em sua missão por trinta e cinco anos, incansavelmente “lutando o bom combate” pela Igreja, a qual apoiou até sua morte, em 30 de julho de 578. Assim, salvou as igrejas que rejeitaram o Concílio de Calcedônia do desaparecimento, que puderam então reestruturar suas hierarquias bem como suas comunidades.

São Tiago Baradaeus, metropolita de Edessa, é comemorado pela Igreja Ortodoxa Siríaca nos dias 29 de julho e 28 de novembro. Por seus feitos, frequentemente as demais igrejas (latina e grega) referem-se à Igreja Ortodoxa Siríaca como “igreja jacobita”, ou seja, a “igreja de Jacó”, numa alusão a São Jacob Baradaeus e sua missão, dando a entender que foi ele quem de alguma forma “criou” a igreja siríaca. Tal apelido é rejeitado pela Igreja Ortodoxa Siríaca, pois, mesmo reconhecendo os feitos deste grande santo, tem plena consciência doutrinal e histórica de que é ela a genuína Igreja de Antioquia, fundada por São Pedro Apóstolo, e que mesmo sendo perseguida, martirizada e difamada, permanecerá firme e fiel à missão dada por Cristo, de levar o Santo Evangelho à toda criatura, até sua volta triunfante.

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